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MELODIA CONCRETA (2014)

 

Curadoria e apresentação.

Exposição Melodia concreta: Urbit,

realizada no Midrash Centro Cultural

(Rio de Janeiro, 2014).

Artista: Sonia Meilman.

 

 

•  Sonia Meilman

• Curadoria

• Silhuetas

• Fotografia contemporânea

• Imagem e palavra

MELODIA CONCRETA – URBIT

 

Fotos e vídeo de SONIA MEILMAN

 

A exposição “Melodia Concreta – URBIT” apresenta cinco painéis fotográficos de skylines de diversas cidades-países do mundo, reconstruídos através de técnicas de fotomontagem e edição digital. A artista explora a interface entre a cidade concreta – com sua singular topografia – e a cidade virtual, imaginária – que as novas modalidades de experiência espaço-temporais proporcionadas pela tecnologia digital tornam cada vez mais reais em nossas vidas.

 

Sonia Meilman é um tipo de globetrotter, uma viajante contumaz, amante das artes visuais, que há anos se dedica a fotografar em silhueta a arquitetura das cidades por onde passa. Como evolução de seu processo criativo, começou a montar os fragmentos de várias vistas no continuum de um só panorama, fazendo uma síntese de dados representativos de cada lugar, o que acaba por recriar o perfil urbano sem, no entanto, comprometer sua identidade. Às vezes são metrópoles, como no caso de Nova York, às vezes um apanhado de várias cidades de um mesmo país ou região, como no caso de Israel, China e Península Ibérica. Captando algo da “forma essencial” desses lugares, as imagens-síntese de Sonia Meilman ocupam um espaço de interseção entre a realidade e o símbolo.

 

As formas gráficas do preto e branco radical, conduzindo-nos pelas linhas do horizonte urbano com seus traços fisionômico-culturais específicos, vão delineando a paisagem numa espécie de partitura, que sugere a melodia e o ritmo da percepção que te(re)mos dessas cidades – simultaneamente concretas e abstratas. Indo ainda um pouco mais além na cadeia da analogia musical, podemos afirmar que elas apresentam uma ressonância da mesma lógica binária que define a própria condição da imagem digital: branco e preto, presença e ausência, sim e não, 0 ou 1...

 

Essa referência torna-se ainda mais explícita no vídeo Urbit [Urbe + Bit], quando a artista relaciona os códigos textuais e visuais como parte de um mesmo fluxo de sinais que se transformam continuamente e nos remetem a essa grande metrópole cibernética em que nos projetamos através da rede mundial de computadores.

 

MELODIA CONCRETA

Texto escrito para a primeira exposição da autora (2003).

 

As imagens que saem da câmera escura de Sônia Meilman não nascem do desejo de representar o mundo visível. Sua razão de existência é outra, elas querem ir além, inventar novos mundos, especular sobre reinos imaginários, enfim, desvincular-se da vocação à imitação. A motivação artística de Sônia Meilman passa pelo questionamento do realismo inerente à atividade fotográfica. Ela se realiza através da desconstrução do objeto, provocando os olhares através da recriação livre das formas, da subversão das aparências.

 

Em “Melodia Concreta” os traços do real ficaram, há muito, para trás, como pegadas na areia lambida pelas ondas. Dizer que se tratam de silhuetas em contraluz é dizer o óbvio, é discorrer sobre uma redundância, já que nenhum olhar minimamente experiente deixaria de reconhecer a origem destas formas, nem tampouco se dar por satisfeito com tal explicação.

 

“Melodia Concreta” nos remete a um reino misterioso, a um tempo concreto e impalpável, onde nada mais existe, apenas luz e contorno. É um convite a um passeio pelos valores fundamentais da visibilidade, pela essência do fenômeno fotográfico. Sônia Meilman nos apresenta essa imagem fotográfica na sua máxima simplificação: são linhas que formam blocos geométricos que recortam o espaço em um claro-escuro radical, polarizado ao extremo. É um universo preto no branco, literalmente, mas nada tão seguro quanto possa parecer. Pode não haver espaço para meios tons, mas as certezas são provisórias. Ainda nesse reino binário, bidimensional, a ambigüidade subsiste.

 

Seguindo a tradição das pesquisas gestaltistas da percepção, de desvendamento das ilusões óticas presentes nas relações entre figura e fundo, a poesia gráfica das silhuetas dos telhados confunde o olhar. Dependendo de como se veja, podemos alternar as posições do céu e da arquitetura, do cheio e do vazio, ou seja, da presença e da ausência. As imagens brincam com sugestões de espelhamento, de inversões entre luz e sombra, positivo-negativo, yin-yang, dinâmico-estático, num jogo de oposições e complementaridades, com toda tensão e harmonia a que se tem direito.

 

Assim Sônia Meilman nos apresenta um conjunto tão melodioso quanto a seqüência das notas musicais nos pentagramas, numa partitura composta para o teclado que contém, virtualmente, todas as músicas.

 

 

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